01/12/2023 | by Beth
Então família, quem nos vê hoje fazendo triathlon extremo não imagina a epopeia que foi a nossa jornada com a natação, dos desafios que enfrentei e que depois o Márcio passou também, deixa eu te contar.
Em algum lugar entre Salvador e Maceió em 2021
Desde o início, a natação sempre foi um território misterioso e tempestuoso para mim, uma batalha constante contra o medo da água e o que reside nelas. Afinal na estrada se você cansar é só sentar no meio fio e esperar a dignidade voltar. No mar não dá pra fazer isso.
Apesar de ter "nascido dentro d'água", eu sinceramente não me lembro de como comecei a ir para o mar. Imagine como é andar pra você, você simplesmente sabe. Mas isso não significa que eu sabia nadar, natação era um luxo inatingível na minha cidadezinha esquecida no interior de Santa Catarina. Sequer havia piscina para treinar, e meus pais, tadinhos, não poderiam bancar essa extravagância mesmo se ela existisse. Foi só mais tarde, após encarar a vida e sair da faculdade, que resolvi aprender a nadar.
Iniciei essa jornada pela natação motivado pelo surf, ansiando por melhorar minha remada, ganhar resistência e sobreviver às feras do mar. O que começou como uma tentativa de aprimorar meu desempenho rapidamente se transformou em travessias no mar e lagoas de 1500 metros. A primeira delas foi na imponente Lagoa do Peri, em Florianópolis.
Gente, foi um nervosismo surreal não conseguir enxergar nem a ponta do meu próprio dedo naquele vasto horizonte nada azul daquele dia.
Travessia Lagoa do Peri em 2010
Graças a um grande amigo, já experiente em travessias, enfrentamos juntos um treino uma semana antes da prova, Enfrentei todos os medos possíveis: "não conseguir respirar", "medo de encostar em algo" ou até mesmo "algo sinistro surgir do fundo das águas".... 😅😅😅
Largada Fodaxman em 2017 (Foto: CR2)
Toda aquela tensão serviu de "repertório" para a semana seguinte, e uma experiência preciosa que, anos depois, se mostraria de vital importância em desafios como o Fodaxman, onde a natação é durante a madrugada na Barragem São Bento - Santa Catarina.
Falando em travessias, lembro-me de quando assisti o Ironman Brasil pela primeira vez, enquanto eu estava no caiaque dentro d'água, alguns atletas estavam claramente aterrorizados, talvez nunca tivessem encarado o mar, só piscinas. Encarar ondulações que obscurecem totalmente as referências visuais, como a praia, ilhas e bóias, pode gerar pânico instantâneo.
E aqui entre nós, nadar no mar é uma experiência indescritível, não sei se você já teve essa experiência.
Imagina estar em um lugar no mar onde não dá pé, as ondas que seriam inofensivas na beira do mar se transformam em obstáculos ameaçadores. A visão se perde, o pânico toma conta, e você se vê cercado por um mar de incertezas.
Praia Ponta Grande - Porto Seguro - BA em 2017
Lembro-me desse mesmo Ironman depois da natação, de ter assistido a parte de bicicleta e depois a corrida e não parei de pensar na prova.
A saga continuou quando decidi encarar o Ironman no ano seguinte, uma decisão que, na época, era difícil até para se inscrever, algo como tentar conseguir ingressos para um show do ex-Beatle Paul McCartney.
Em pânico após me inscrever no primeiro Ironman (Fonte:internet)
Com toda uma estratégia, consegui me inscrever, mas o pânico logo se instalou: "Como eu vou encarar 3800 metros de natação?" Nem os 180 quilômetros de bicicleta, ou os 42 quilômetros de corrida, nunca ter feito um triathlon, nunca ter pedalado com uma bicicleta do tipo Road ou TT (estilo utilizado para esse tipo de competição) me assustavam tanto quanto a água.
Quando conheci o Márcio, no primeiro ano da nossa história, lembro de uma trilha que fizemos. Era a trilha de 7 degraus para Paraty, no estado do Rio de Janeiro, depois de andar horas, encontramos um refúgio chamado Cachoeira Sete Quedas - Pedra Branca, então paramos para comer e nos refrescar um pouco.
Além das cachoeiras tinha um tipo de piscina com água de uma cachoeira, água um pouco escura e que não dava para ver o fundo, nossos amigos e eu pulamos na água e saímos e o Márcio ficou naquele vai ou não vai.
Cachoeira Sete Quedas -Paraty - RJ em 2015
Como eu comecei a filmar, e tadinho ele se viu obrigado a pular.
Lembro-me vividamente do momento em que ele se virou, dava pra ver nos seus olhos o desespero. Foi aí que ele nos contou que já quase tinha morrido afogado duas vezes, e que tinha pânico d'água.
Mas o que é a determinação, né? Admiro muito ele por isso. Poucos anos depois quando decidi voltar a fazer o Ironman Brasil, ele me acompanhou, ali ele decidiu que queria fazer triathlon também, e somente 7 meses depois ele largaria para o seu primeiro triathlon, um Sprint que são 750m de natação, 20 km de bike e 5 km de corrida, onde o principal desafio eram os 750 metros de natação.
O medo da água persistia nele, e treinar juntos era um desafio logístico, com ele estava em São Paulo e eu em Florianópolis. Três meses antes da prova, ele simplesmente não conseguia nadar no mar. Tentamos algumas vezes em Floripa sem sucesso.
Praia Ponta Grande - Porto Seguro -BA em 2017
Naquele setembro, estávamos em Porto Seguro, em uma praia bem calma com alguns barcos apoitados. Eu nadei até o primeiro barco e voltei pra ver a distância, eram uns 200 metros. Lembro-me claramente do momento em que ele enfrentou a distância, primeiro até um barco, depois outro, até a praia. O pânico era palpável em seus olhos, mas ele estava determinado. Não lembro se ele chegou a nadar 750 metros naquele dia, mas ele estava convencido que conseguiria fazer.
No dia da prova, em dezembro, ele foi um dos últimos a sair da água, mas nossa celebração superou a do vencedor ♥️
Challenge - Sprint - Jurerê Internacional - Florianópolis em 2017
Claro que ainda rola medo, mas com o aumento das experiências, aprendemos a controlar melhor.
Just Keep Swimming (Fonte:internet)
E assim seguimos, desafiando o medo, respeitando o mar e avançando, e como diria a Dori do filme "Procurando Nemo": "Just Keep Swimming" ou "Apenas Continue a Nadar".
Muito grata por você nos acompanhar até aqui ♥️
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Tags: natação, superação