15/12/2023 | by Beth
Sim! No primeiro artigo sobre trabalho do site, vamos discutir sobre férias e a sua ausência. Não sei quanto a vocês, mas durante muitos anos da minha vida como funcionária de carteira assinada, vendi minhas férias.
E por muitos anos, orgulhosamente afirmava: "Nunca tirei trinta dias seguidos de férias." Essa afirmação esconde um sentimento de orgulho por ser uma "super trabalhadora" e, ao mesmo tempo, a culpa por não estar produzindo.
Ao estudar neurociência, percebi que não é apenas meu corpo dizendo que preciso de descanso; é a ciência dizendo que preciso de descanso. E é sobre isso que gostaria de compartilhar com vocês.
"Os melhores negócios têm como foco conseguir o melhor das pessoas, não o máximo delas."
O livro dos Negócios
Primeiramente, quero abordar a ideia de 'vender as férias'. Ao contrário da máxima que ouvimos frequentemente, tempo não é dinheiro.
Tempo e dinheiro são riquezas distintas; o tempo não pode ser recuperado, enquanto o dinheiro pode ser adquirido de outras formas.
Muitas vezes ao gerir pessoas, ficava feliz ao receber um pedido de um colaborador para a compra das férias, pensava: "Ótimo, tal projeto que precisaríamos desacelerar, podemos manter o ritmo". Mas também neguei muitas outras vezes, quando ao olhar para o indivíduo ele precisava mais do descanso do que do dinheiro.
"Não é que temos pouco tempo, é que desperdiçamos muito." Sêneca
Outro equívoco é a ideia de que “somos obrigados a nos divertir durante as férias”. Como disse Theodor Adorno, o tempo fora do trabalho é chamado 'tempo livre' e, se é livre, não deveríamos ser obrigados a nada; seria um tempo livre para qualquer coisa, inclusive nada.
Você já se frustrou ao querer ficar em casa, 'fazendo vários nadas', e se sentiu culpado por isso? Ou forçou-se a fazer algo que não queria apenas para evitar comentários como: 'Como assim você ficou em casa em um dia tão lindo?' ou 'Você não fez nada nas férias?'. Alguma vez você foi grato por um fim de semana chuvoso, apenas para ter uma desculpa perfeita para não sair de casa?
Agora, passo para o segundo tópico: a necessidade de ócio. O ócio é crucial para criar novas conexões cerebrais e conectar pensamentos que não estavam previamente relacionados. De acordo com o neurologista Facundo Manes, o contrário do que se possa pensar, o cérebro trabalha intensamente durante o ócio, e a falta dele impacta diretamente na nossa capacidade criativa, pois a criatividade passa por três estágios: preparação, incubação e inércia, sendo esta última alcançada nos momentos de ócio.
E não me entenda errado, o ócio não se refere à passar esse tempo nas intermináveis timelines das redes sociais, nem podcasts intermináveis ou vídeos na sua plataforma de streaming favorita. O excesso de informação apenas causa distração, mas isso é assunto para outra ocasião.
Por fim, gostaria de abordar a Antifragilidade. O professor da felicidade de Harvard, Tal Ben-Shahar, em seus estudos, destaca a necessidade de pausas para nos tornarmos antifrágeis. Ele explica que o problema não é o estresse, mas a falta de recuperação.
"Poderia fazer um ano de trabalho em nove meses – mas não em doze meses" - J.P. Morgan
Ben-Shahar recomenda três tipos de momentos de recuperação: os micro, que podem ser segundos ou minutos durante o dia, como pequenas meditações, atividades esportivas ou uma refeição (sem o celular, é claro); as pausas médias, como um ou dois dias de folga no final de semana; e, principalmente, o sono. Por fim, as pausas longas, como as férias.
Até as máquinas precisam de intervalos para manutenção e/ou sistemas de resfriamento; se não fizermos paradas e manutenções preventivas, os danos posteriores serão muito maiores. Assim como no esporte, sem uma evolução gradual e momentos de descanso e regeneração, ocorre uma sobrecarga muscular que pode levar a lesões. Em vez de crescer como antifrágil, acabamos quebrados.
Mas eu não estava totalmente errada. Há uma informação positiva que a neurociência também traz sobre as férias não serem todas de uma vez. De acordo um estudo realizado pela Affective Brain Lab da University College London e conduzido pela equipe da diretora e neurocientista Tali Sharot, mostra que os momentos de maior satisfação durante as férias são os “primeiros”: 'primeiro mergulho', 'primeira refeição', 'primeiro drink', 'primeira manhã sem acordar com o despertador', etc. Tendo seu pico de satisfação e sensação de férias em 43 horas. Além disso, o planejamento de uma viagem pode trazer uma sensação de antecipação das férias, ativando os sistemas de recompensa do cérebro e causando alegria. Logo, dividir as férias em períodos menores e ter vários picos de satisfação e momentos de antecipação ao longo do ano, aumenta a sensação de felicidade e bem-estar. Algo que sempre senti e fiz, e que agora compreendo a explicação fisiológica por trás disso.
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Tags: trabalho, neurociência